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Opinião | Festival de Brasilia 2025 começa em alto nível com 'O Agente Secreto'
Musica 14/09/2025 02:04 Fonte: Estadão Por: Estadão Relevância: 20

Opinião | Festival de Brasilia 2025 começa em alto nível com 'O Agente Secreto'

BRASÍLIA - Com perdão da ênfase, tivemos uma noite de gala na abertura do Festival de Brasília 2025 com a exibição, fora de concurso, de O Agente Secreto, de Kléber Mendonça Filho. O filme, como se sabe, venceu em duas categorias importantes do Festival de Cannes, direção e melhor ator (Wagner Moura). É favorito para ser o indicado do Brasil na disputa por uma vaga no Oscar de melhor filme internacional. A Academia Brasileira de Cinema divulga nesta segunda-feira qual será o filme brasileiro escolhido para iniciar a disputa pela estatueta, na sequência do sucesso de Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. O Agente Secreto tem estreia no circuito marcada para 6 de novembro.

Na verdade, o filme pede para ser visto mais de uma vez. Não apenas para entregar, ainda que em parte, seus mistérios, mas por puro prazer. Dou um exemplo. Há uma longa sequência que antecede um crime e é pontuada pela música da Banda de Pífanos de Caruaru, tocando A Briga do Cachorro com a Onça. Dá uma pegada super enérgica à sequência, e coloca o filme lá em cima.

Aliás, a trilha sonora (disponível em parte em tocadores de streaming) é um caso à parte nesse filme sofisticado porém, a meu ver, de bom diálogo com o público. Vai de Waldik Soriano (Eu não Sou Cachorro Não) a Não Há mais Tempo, com Angela Maria, passando pela trilha de Ennio Morricone composta para Guerra e Paz.

Poderíamos falar desse filme complexo através da excelência de suas partes - fotografia, direção de arte, música, excelência do elenco, etc. Mas seria desmembrar o todo que bate na tela com invulgar força e nos arrebata. A força está nas partes, mas o conjunto é maior que a soma delas.

Trata-se de uma imersão invulgar no tempo da ditadura, procurando captar esse clima conhecido por quem a viveu - essa sensação de medo difuso, de paranoia mesmo, que impregna todos os relacionamentos e ambientes quando se vive um período autoritário. Ou seja, quando inexistem garantias individuais e quando o poder arbitrário se estende das mais altas esferas ao policial truculento que encontrar prazer em torturar.

Será preciso voltar a O Agente Secreto. E será um prazer.

Depois dessa abertura espetacular, o Festival de Brasília dá início hoje às suas mostras competitivas. No Cine Brasília, às 21h, o primeiro longa em competição: Morte e Vida Madalena, de Guto Parente, do Ceará. Antes, dois curtas, Logos, de Britney, e Safo, de Rosana Urbes.

Sessões de obras fora de concurso também serão iniciadas. Às 18h, sempre no Cine Brasília, serão exibidos os curtas Mensagem de Sergipe, de Fábio Rogerio e Jean-Claude Bernardet e O Homem do Fluxo, da mesma dupla. Jean-Claude nos deixou este ano. Ensaísta, professor da USP, roteirista, cineasta e ator, foi uma das grandes perdas do cinema brasileiro este ano.

Depois desses curtas, teremos a exibição de Sérgio Mamberti - Memórias do Brasil, de Evaldo Mocarzel. Um doc sobre um dos atores mais queridos do país.

O Festival de Brasília completa 60 anos de existência. Está em sua 58ª edição. Por quê? Porque criado em 1965, com o nome de Semana do Cinema Brasileiro, foi interrompido pela censura da ditadura militar no início dos anos 1970. A ditadura, sempre ela. E existe gente que defende a sua volta...

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