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O Brasil está preparado para receber vários data centers?
Radio 30/09/2025 19:32 Fonte: O TEMPO Por: O TEMPO Relevância: 30

O Brasil está preparado para receber vários data centers?

SÃO PAULO - O Brasil é um dos países mais preparados do mundo para receber vários data centers especializados em inteligência artificial, é o que garantiu Otavio Chave, professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), no primeiro dia da 30ª edição da Futurecom, evento que é um dos principais na América Latina nas áreas de tecnologia e telecomunicações.
Durante um painel sobre soluções tecnológicas para questões ambientais, promovido pelo IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos), o especialista explicou que a energia demandada pelos quatro projetos de novos data centers iniciados no Brasil demandam, juntos, o equivalente ao produzido pela usina de Tucuruí, no Pará. Mas dificilmente isso vai provocar um problema para o Sistema Interligado Nacional, porque cada um deles já será construído com uma usina fotovoltaica própria.
"Todo projeto de data center para IA que vier para o Brasil terá de contar com projeto próprio de usina fotovoltaica, para não impactar no preço da energia de uma determinada região. Mas caso haja uma falha na usina, não será um problema acessar a energia do sistema interligado por um pequeno período de tempo", explicou o professor, que é um grande entusiasta da ampliação da geração de energia solar, especialmente na região Norte do país.
O assunto ganhou grande relevância no Brasil especialmente após o lançamento do ReData, programa governamental que oferece incentivos fiscais para a instalação de data centers de IA no Brasil. A medida provisória do ReData foi publicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e encaminhada ao Congresso.
No centro do debate está a intenção do Tiktok de construir uma grande estrutura no Ceará, estado de onde sai boa parte do cabeamento entre a América do Sul e a Europa.
Investimentos no setor
Instalação de data centers é um tema tão demandado neste momento que o painel "Data center: a revolução industrial no Brasil" foi um dos mais disputados na programação do Futurecom.
No debate, o presidente da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), Affonso Nina, relatou que o ReData foi construído a partir de debates ao longo de dois anos entre setor e poder público. Mas o texto tende a ser modificado, já que o setor continua oferecendo sugestões de aprimoramento. "O ReData permite que o Brasil possa ter um salto gigantesco no âmbito global de processamento de dados", garantiu.
Marcos Siqueira, CRO da Ascenty, empresa brasileira dona de 38 data centers, garantiu que o mercado de tecnologia recebeu o ReData muito bem, mas aguarda incentivos por parte dos governos estaduais.
O gestor explicou que a construção de um data center tem custo aproximado de US$ 1 bilhão e os investidores levam em conta as ofertas de outros países.
"Se não houver desoneração fiscal, esse investimento não virá para o Brasil e vai para países vizinhos. Vale lembrar que a principal demanda do país neste momento é de data centers para cloud (nuvem), pois as empresas esperam que seus dados estejam hospedados em estruturas sediadas no Brasil", disse Siqueira.
Para evitar uma guerra fiscal entre os estados por data centers, um acordo está sendo estudado no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que reúne secretários de fazenda dos estados.
Ampliação da produção de energia fotovoltaica
Segundo Otavio Chase, as usinas fotovoltaicas têm sido fundamentais para que a energia elétrica chegue a lugares mais remotos da Amazônia, onde os geradores movidos a diesel ainda são muito demandados.
"Em 2020, em plena pandemia, instalamos uma usina fotovoltaica na a Ilha do Marajó (PA), e isso promoveu uma grande mudança. Você precisa ver quantas crianças nunca tinham visto um freezer, um computador, a internet. Energia elétrica torna possível uma melhoria de vida para uma comunidade e permite o acesso a internet", lembrou.
Mas a ampliação de usinas fotovoltaicas no país demanda atenção, já que um excesso de produção pode gerar um apagão no Sistema Interligado. Isso porque a energia solar tem alta produção de energia ao longo do dia e para rapidamente no momento do pôr do sol - fato que pode estressar o sistema.
Porém Chase explicou que essa questão deve ser resolvida em breve, com a chegada ao Brasil do BESS (Battery Energy Storage System), uma tecnologia de armazenamento de energia através de baterias de lítio.
"As intermitências do Sistema Interligado vão deixar de acontecer com a entrada do sistema de armazenamento. Até 2029, teremos vários reservatórios de baterias instalados, acabando com as intermitências da microgeração de energia distribuída", afirmou Chase, reforçando que ate 2030 a potência instalada da energia solar deve chegar a 132 mil mega Watts, o dobro do que temos hoje.
Inclusão na Amazônia
No painel promovido pelo IEEE, entidade que congrega mais de 486 mil engenheiros ao redor do mundo para promover tecnologias criadas para o bem da sociedade, Tereza Cristina Carvalho, professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), mostrou como a tecnologia está ajudando numa revolução social na Amazônia.
Um projeto da universidade desenvolveu uma biofábrica de chocolates naturais em uma comunidade à beira do rio Tapajós, no Pará.
Segundo a professora, as comunidades são capacitadas para a produção do chocolate in loco, para um crescimento da renda local pela fabricação de um produto com maior valor agregado.
Além disso, todos ganham com o biobanco da Amazônia. "Lá existe uma biodiversidade enorme que pode gerar muitos produtos, especialmente biofarmacos. Então, as pessoas locais coletam amostras de plantas, que são processadas no biobanco num sistema de block chain e, caso uma empresa se interesse pela amostra, ela paga por isso e o valor é repartido com as comunidades", explicou Tereza.
Segundo ela, a biofabrica não gera resíduos e demanda energia elétrica fotovoltaica. A água usada no processo de fabricação do chocolate é anteriormente purificada - especialmente para evitar o mercúrio encontrafo no Tapajós por conta do garimpo ilegal.
Outro projeto tecnológico levado pela USP para a Amazônia é o combate à pesca ilegal do pirarucu de grande peixe muito apreciado no Norte do país. O monitoramento é feito com drones e os recursos são oriundos de uma parceria com o governo britânico.
Segundo Vanessa Schramm, professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), que também participou do painel do IEEE, projetos estão sendo desenvolvidos em várias partes do mundo para resolverem questões diversas da humanidade - as mudanças climáticas entre elas.
"Usamos a tecnologia para prever questões das mega tendências, como o aumento de pessoas nos centros urbanos ou o envelhecimento da população", disse.
*A repórter viajou a convite do IEEE.

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